quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Encontro no ponto de ônibus

Logo após deixar meus amigos em uma praça onde havíamos nos reunido para matar a saudade e passar o tempo, tive que ir para um ponto de ônibus. Chegando lá, ainda me sentia feliz e bem por causa do encontro antes mencionado, e notei que no banco do ponto de ônibus ficavam separados dois grupos de pessoas, de um lado, algumas mulheres e homens, trabalhadores, vidas aparentemente normais, e do outro, três pessoas, dois homens e uma mulher, que quando cheguei estava de costas conversando com os dois e gesticulando sem parar. Esses três últimos pareciam moradores de rua, e a mulher estava nitidamente bêbada. Sentei-me entre os dois grupos, ao lado da mulher de costas.
Fiquei observando a cena, do meu lado direito estavam os três isolados pelo restante das pessoas ao meu lado esquerdo, e notei que os do lado esquerdo por vezes olhavam e faziam uma expressão de desaprovação enquanto a mulher de costas conversava gesticulando com os outros dois homens sobre traições e coisas do tipo. Ela se movimentava tanto que acabou esbarrando em mim por acidente, e quando olhou para trás, eu vi o rosto dela e a reconheci de alguns meses passados, em que a encontrei em uma praça e ela estava igualmente bêbada, feliz e falante. Ela tinha os cabelos e os olhos claros, lindos, porém possuía várias rugas no rosto e usava maquiagem carregada e roupas velhas. Perguntou como eu estava, como andava a minha vida. Contei sobre tudo, perguntei sobre a dela, pedi um cigarro, ela me deu e conversamos por algum tempo, ela perguntou qual era o meu nome mesmo, eu disse e ela comentou que era o nome do filho dela, coisa que já tinha me falado da outra vez que nos encontramos. Mostrou-me uma garrafinha de água e disse que tinha pinga dentro, me mostrou um agasalho de lã que disse que usava para não passar frio na rua de madrugada, e eu perguntei se ela não passava calor com essa blusa e nessa época do ano, e ela disse que certa parte da madrugada realmente é quente, mas em alguns momentos perto do amanhecer, a temperatura cai muito. Enquanto conversava com ela, senti os olhares atrás de mim mudando, olhares de surpresa, espanto, preconceito, e ela e seus dois companheiros se levantaram e saíram andando, mas antes que ela deixasse o ponto de ônibus, ela se virou para mim, parando logo atrás de uma das mulheres do meu lado esquerdo, e disse:
“Fique com Deus”.
E pode ter sido engano meu, mas poderia jurar que esta mulher que ficou perto dela quando ela se virou para mim e me desejou isto, comentou com um tom sarcástico:
“Hum! Deus.”
E fiquei lá, parado, esperando meu ônibus e pensando sobre esse curto acontecimento que alterou minha rotina, sei que diferente das outras pessoas naquele ponto de ônibus, eu não consegui parar para julgar ninguém, mas consegui ver como alguns pensam que por tomarem certas escolhas e terem vidas melhores que outros, também possuem mais valor.