domingo, 27 de junho de 2010

Monodiálogos

Curiosa é a capacidade que temos de fazer monólogos de nossos diálogos. Tenho observado ultimamente que quando duas pessoas estão conversando sobre seus problemas individuais, uma simplesmente não presta atenção na outra. É até engraçado de se assistir, uma julga estar sofrendo mais que a outra, e elas mal se escutam.
Talvez até ajude falar das aflições em voz alta, mesmo que o outro pouco se importe, colocar para fora o que te faz mal só para que você mesmo possa se ouvir, uma conversa solitária com outra pessoa.
Percebendo isso, quando alguém vem conversar comigo, eu faço uma coisa que só algumas pessoas fazem, eu escuto, até tento falar que sei como é, e que já passei por situação semelhante, mas logo vejo que o receptor não se importa, então eu me calo e continuo ouvindo atentamente às suas lamentações. Empresto minha atenção e dou minha opinião, para tentar ajudar meu amigo. Meus males, eu guardo em mim para que eles se auto-destruam, ou adormeçam, ou continuem intactos.
"Quero te dizer também que nós, as criaturas humanas, vivemos muito (ou deixamos de viver) em função das imaginações geradas pelo nosso medo. Imaginamos consequências, censuras, sofrimentos que talvez não venham nunca e assim fugimos ao que é mais vital, mais profundo, mais vivo. A verdade, meu querido, é que a vida, o mundo dobra-se sempre às nossas decisões." Lygia Fagundes Telles

Separação

É uma palavra muito difícil, triste, que muitas pessoas evitam falar ou pensar, inutilmente, pois todos nós sabemos que um dia teremos que nos separar de coisas e pessoas que nem imaginamos como seriam nossas vidas sem as mesmas, mas você sabe que um dia vai deixar para trás aqueles lugares em que você viveu coisas únicas, que só você ou um grupo de pessoas podem entender a sensação, ou aquele grupo de pessoas que te proporcionou sensações que você tornou inesquecível em sua memória. E no fim é só isso que resta mesmo, a memória, e eu não entendo por quê se vê em tantos lugares que os felizes são os de memória fraca, sendo que quando você não pode mais ver, tocar, sentir tudo o que você mais sente falta, só resta lembrar como era, e isso acaba sendo de certa forma confortante, ao mesmo tempo que doloroso, mas é preferível sentir isso do que ficar sem sentir nada, esquecer dos trechos da sua vida que fizeram você ser quem é hoje, ou não, não importa, a única coisa que importa é conseguirmos manter tudo e todos que mais amamos o mais próximo possível, até que o dia da separação chegue, os dias, meses e anos passem, e você provavelmente nunca mais verá nada disso, ou verá, mas não será tão intenso como foi um dia. E no fim, só resta você, sua vida atual, e suas lembranças.

Carta da Manhã Seguinte

Ontem à noite eu fiz de novo, fiquei pensando em você antes de dormir. Imaginei nós dois deitados em uma cama, em um quarto escuro apenas com a iluminação da luz da lua que saía de uma janela do outro lado do cômodo e refletia em seu rosto enquanto eu contornava os seus traços com as costas dos meus dedos e te observava sorrir.
Queria saber se você também imagina coisas deste tipo sobre mim.
Mais do que isso, queria saber em qual rua virar, em qual prédio entrar, ou a qual lugar ir para que eu possa te encontrar, nem que seja só para ficar te olhando, admirando suas feições.
Talvez eu tenha errado na hora em que permiti que sua semente fosse plantada no interior de meu cérebro, agora tenho que suportar a dor de suas raízes arranhando meus pensamentos.
"Juro por Deus que, se eu fosse um pianista, ou um autor, ou coisa que o valha, e todos aqueles bobalhões me achassem fabuloso, ia ter raiva de viver. Não ia querer nem que me aplaudissem. As pessoas sempre batem palmas pelas coisas erradas. Se eu fosse pianista, ia tocar dentro de um armário." O Apanhador no Campo de Centeio - Jerome David Salinger




É quando você abre os olhos ao acordar e não vê nada por causa da pouca iluminação do seu quarto, não sabe como está o tempo lá fora, mas independente disso, seu único desejo é de ficar na cama o dia inteiro, torcendo pra que nada te faça levantar dela, entrar de baixo do cobertor e se esconder do mundo lá fora que vive insistindo em te puxar pro meio das pessoas de sempre, as que você gosta, as que você finge gostar, as que você finge não se importar nem um pouco, as pessoas que você não tem a mínima vontade de conhecer, de cumprimentar, ou mesmo de olhar na cara, não por ódio, por indiferença, por realmente não ter interesse nenhum.
Fica pensando em como seriam os discursos sábios dos que acham que sabem alguma coisa da vida, do mundo, do amor, sabem porra nenhuma. Dias assim te dão prazer de pensar em trancar-se na sua casa e ficar à vontade, esperando tranquilamente esses sentimentos passarem e tomar lugar a saudade dos tempos antigos, lembranças felizes com pessoas importantes, memórias que parecem ser de outra vida de tanto tempo que se passou, mesmo tendo sido há poucos meses, a vida muda tanto que se fazem parecer décadas. Dias assim também servem como momentos bem reflexivos que te ajudam a pensar sobre a sua realidade e pensar sobre tudo o que você tem e em tudo o que você faz, serve para te ajudar a dar um valor a tudo que você não lembra na maioria do tempo, mas sabe que tem uma importância no mínimo relevante, e sabe também que pode vir a acabar um dia.